Não te rendas, ainda estás a tempo
de alcançar e começar de novo,
aceitar as tuas sombras
enterrar os teus medos,
largar o lastro,
retomar o voo.
Não te rendas que a vida é isso,
continuar a viagem,
perseguir os teus sonhos,
destravar os tempos,
arrumar os escombros,
e destapar o céu.
Não te rendas, por favor, não cedas,
ainda que o frio queime,
ainda que o medo morda,
ainda que o sol se esconda,
e se cale o vento:
ainda há fogo na tua alma
ainda existe vida nos teus sonhos.
Porque a vida é tua, e teu é também o desejo,
porque o quiseste e eu te amo,
porque existe o vinho e o amor,
porque não existem feridas que o tempo não cure.
Abrir as portas,
tirar os ferrolhos,
abandonar as muralhas que te protegeram,
viver a vida e aceitar o desafio,
recuperar o riso,
ensaiar um canto,
baixar a guarda e estender as mãos,
abrir as asas
e tentar de novo
celebrar a vida e relançar-se no infinito.
Não te rendas, por favor, não cedas:
mesmo que o frio queime,
mesmo que o medo morda,
mesmo que o sol se ponha e se cale o vento,
ainda há fogo na tua alma,
ainda existe vida nos teus sonhos.
Porque cada dia é um novo início,
porque esta é a hora e o melhor momento.
Porque não estás só, por eu te amo.
Enquanto embarcava no meu voo de volta pra casa, abri o Instagram e li esse poema compartilhado, do uruguaio Mario Benedetti. Considerei um presente( obra de mero acaso? 🤔…), pra enriquecer ainda mais, de valor e significado, essa viagem que fiz, com um propósito bem específico.
Nasci em Fortaleza, mas passei metade da minha vida em Manaus; conheço costumes e cultura porém, depois de 25 anos fora e mais de 10, desde a última visita, bateu uma vontade quase imperativa de voltar pra rever minha história, minhas raízes, reforçar laços afrouxados pelo tempo e distância, relembrar cheiros e sabores, revisitar alguns lugares e conhecer outros que, mesmo vivendo lá tanto tempo, ainda não conhecia…
Havia vários motivos, mas o principal era procurar fazer as pazes comigo mesma e, se coubesse no pacote, com meu próprio país: uma tentativa de recuperar o amor próprio e o orgulho pela minha terra.
Nada mais clichê só que, faz todo o sentido: quando estiver meio sem rumo, retorne ao ponto de partida, algum lugar mais familiar, onde reencontre suas referências.
Estamos vivendo tempos estranhos e é difícil não se deixar contaminar pela desesperança e pessimismo, quando todo dia é mais uma vergonha, ou raiva, ou decepção, às vezes, tudo junto!
Essa viagem foi como um “Back to The Future” pra mim.
A cidade não é a mesma de 25 anos atrás. Mas eu também, não.
Muita coisa mudou, necessariamente, não pra melhor. Na verdade, Manaus pareceu-me uma senhora decadente que o tempo, inclemente, cobrou caro os excessos da juventude. É como reencontrar alguém importante pra você, já envelhecido e curvado pelos anos: há um misto de pena e amor complacente que acaba acolhendo, sem julgamentos.
Voltei com outros olhos. E eles não deixaram de ver os muitos problemas estruturais de uma cidade que cresceu( não! Explodiu!) sem planejamento, o abandono seguido dos governantes, o inchamento da capital com a chegada dos venezuelanos, e as consequências econômicas e sociais disso, a selva de pedra, cinza e quente, o trânsito caótico…porém, como diz a mãe: “É feio? Mas é meu filho!”, Manaus pode ter muitos problemas, como todo o resto do país, mas é minha mãe! Admitir tal origem faz parte do “me aceitar”, com todos os defeitos. Maltrato-me, muitas vezes. Cobro de mim padrões que nem sempre consigo alcançar e, claro, acabo por me frustrar! Mas amor e respeito próprios são indispensáveis pra se chegar ao equilíbrio!
O atual presidente, que deve morar no “país das maravilhas”, não vê preconceito no Brasil. A realidade é bem outra: somos divididos entre brancos e pretos, ricos e pobres, Norte/Nordeste e Sul/Sudeste, héteros e homos, homens e mulheres…
Mas, como escrevi anteriormente, voltei com outros olhos. E quero crer, que estejam mais apurados pra perceber o que precisa ser mudado e, a essência, o que há de bom, preservado. Faz parte do crescimento, assim penso, porque amadurecer é tornar-se menos babaca, a cada dia. É deixar o ranço de lado, a “lezeira”, como diz o amazonense. Lutemos, então, pela extinção dos babacas, no mínimo, o babaca que habita em nós! Então, citando Tom: “Que maravilha( seria) viver!”
Voltei com outros olhos e vi quanto sou pequena, diante da riqueza e beleza desta natureza!
Se fosse um poeta, escreveria um poema em homenagem ao Amazonas. Se fosse um compositor, faria uma toada, na batida contagiante do boi. Se fosse um grande chef, inventaria um prato incrível, uma experiência sensorial inesquecível! Mas como sou “apenas” um cabocla( e agora falo isso com orgulho!), filha da terra, do Norte-Nordeste, de negro, de índio, de português, só posso agradecer, em palavras:
Que bom lhe redescobrir, Amazonas! Que bom me redescobrir! Prazer em nos (re)conhecer!
(Primeiro de uma série de posts que farei sobre Manaus!)