O desafio é pessoal e intransferível mas, aos poucos, percebo não estar sozinha.
Levanto às 4:30h da madruga e visto-me, a caráter, como se fosse a uma cerimônia de graduação: meias acolchoadas, tênis com amortecimento, short, camiseta, boné, chip e número de peito, celular e MP3 na braçadeira, confiro protetor solar e os sachês de carbogel…
No restaurante do hotel, movimentação incomum, para o horário. Todos, corredores como eu. Tipos e idades diferentes, sotaques diversos( mineiro, gaúcho, nordestino…estrangeiro). “Tudo maluco”( como eu), penso!
Participar de uma maratona é como inscrever-se para o vestibular de uma faculdade muito concorrida. Completá-la, a aprovação( e, sem sistema de cotas!)! Um “upgrade”, no seu currículo de corredor. Aventureiro não encara 42Km. É preciso preparo, planejamento, disciplina; equilibrar a mente, tanto quanto exercitar o corpo!
Há 3 dias não dormia bem. E esse é um dos problemas a resolver, daqui pra frente: controlar a TPM( Tensão Pré-Maratona).
Durante o longo percurso, de ônibus, até o Recreio dos Bandeirante, escuto trechos de conversas, todas, sobre corrida( algo incompreensível e chato, pra quem está de fora)!
Por volta das 7:00h h os corredores começam a aglomerar-se na largada, esperando a contagem regressiva. Tanta gente, que mal se consegue andar( muito menos, ver celebridades como o Dr. Dráuzio Varella, 68 anos e maratonista bem mais experiente que eu!), quanto mais, correr!
Às 7:30h o relógio dispara. O coração, também. Aos poucos, a multidão começa a diluir-se, cada um, no seu ritmo.
No MP3, companheiros tão variados quanto os de corrida: Queen, Beatles, Pato Fu, She&Him, Cartola…( Diferente da maioria dos corredores, som “batidão” me cansa.)
A primeira parte da corrida é uma meia maratona, da Praça do Pontal Tim Maia até a Praia do Pepê: 21 km, em linha reta, paisagem bonita porém, tediosa.
Quando deixo a Barra, a ficha cai: agora é que “o bicho vai pegar”!
Há recompensas!
Correr toda a orla do Rio, num dia lindo de Sol é um privilégio!
Mas é doído. Muito! Literalmente.
Antes de decidir participar da maratona, pensava: isso é inumano! Meiamaratonista já me era suficiente. Mas, quem explica essa necessidade, tão humana, de autossuperação?
Já na Avenida Niemeyer sinto a coxa esquerda. A subida parece interminável.
Apalpo o cinto de hidratação e, percebo: calculei mal a quantidade de sachês de carbogel. Terei de dosar a quantidade extra de energia pra que dure, até o final da prova.
Inexplicavelmente, em Copacabana, um corredor desconhecido emparelha comigo; sem falar nada, oferece-me o que preciso. Surpresa, agradeci e, deixei-o pra trás. Não o vi mais. Talvez, tivesse batido as asinhas e voltado ao céu…
No Km 39, já no Aterro do Flamengo, começo a acreditar na frase de Lewiss Carroll:
“A única forma de chegar ao impossível, é acreditar que é possível.”
Quando finalmente ultrapasso a linha de chegada, depois de 5:26h de prova, eu caio. Não, no chão, mas, no choro. Convulsivamente, como uma criança. E aquela frase clichê: “um filme de ação, drama, comédia passa pela cabeça!” Tantos percalços, dias bons, ruins, fases de desânimo…Aprendi tanto, nesses 4 meses de treino!
Mas sou apenas uma caloura, já pensando estudando a próxima prova…
↧
Maratona do Rio: eu estive lá!
↧